Meu Herói
Hoje, eu vi, da minha varanda, uma cena que mexeu comigo: era um homem
puxando uma carroça que, por sua vez, puxava um cavalo. A carroça estava lotada
de quinquilharias que ele recolhia nos lixos dos condomínios, desde poltronas a
louças rachadas, roupas velhas a cascos de garrafas, enfim, tudo o que era lixo
para alguns, para ele, era mercadoria, era um bem utilizável e/ou vendável para
ele. Mas o que mexeu comigo foi a inversão: era ele quem puxava a carroça e o
cavalo.
Quando vi que ele estava entrando no meu condomínio, não aguentei...
Peguei uns trecos aqui de casa e fui levar para ele.
Queria uma desculpa para falar com aquele homem. Só não sabia o que eu queria dizer, só sabia que precisava. Juntei coragem. Cumprimentei- o. Perguntei para ele se queria aquelas panelas velhas. Ele agradeceu com um sorriso. Era um sorriso doente. De poucos dentes. Aproveitei a oportunidade e engatei uma conversa despretensiosa, perguntando se ele revendia aquelas coisas, se quando eu precisasse de um carreto ou de me desfazer de algo podia procurar por ele, onde, como... Até que, não aguentando mais, eu perguntei realmente o que queria saber, o que tanto me incomodava:
Queria uma desculpa para falar com aquele homem. Só não sabia o que eu queria dizer, só sabia que precisava. Juntei coragem. Cumprimentei- o. Perguntei para ele se queria aquelas panelas velhas. Ele agradeceu com um sorriso. Era um sorriso doente. De poucos dentes. Aproveitei a oportunidade e engatei uma conversa despretensiosa, perguntando se ele revendia aquelas coisas, se quando eu precisasse de um carreto ou de me desfazer de algo podia procurar por ele, onde, como... Até que, não aguentando mais, eu perguntei realmente o que queria saber, o que tanto me incomodava:
- Por que o senhor está puxando a carroça e não o seu cavalo?
E ele me respondeu com a singeleza de um anjo - eu passei a crer que os
anjos devam ser pessoas assim, como esse homem.
- É porque ele está cansado. Andou até o cavalo e ainda fez um carinho nele,
sorrindo. Tão simples. Tão puro. Tão honesto. Não consegui continuar. Eu me
despedi dele com um aperto de mão. Ele ficou um misto de surpreso, assustado,
sei lá, pois talvez há algum tempo ninguém estendesse a mão para ele. Subi
correndo para ele não ver meus olhos cheios de lágrimas. E eu chorei. Chorei
como criança.
Depois, fiquei pensando como a
vida, as respostas, as atitudes podem ser simples, podem ser honestas, podem
ser descomplicadas, se a gente se livrar dos ranços do "não pode",
"isso não é certo", "a ordem das coisas não está correta",
ou, o pior de todos: "eu quero assim!"...
Esse cara, esse homem sem nome, virou um dos meus heróis.
Esse cara, esse homem sem nome, virou um dos meus heróis.
Fonte: http://180graus.com/como-ser-feliz/os-herois-do-nosso-cotidiano-os-verdadeiros-herois-brasileiros-419151.html.
Acesso em 04/04/2017.