terça-feira, 4 de abril de 2017

Os Heróis do Nosso Cotidiano



Os Heróis do Nosso Cotidiano: Os Verdadeiros Heróis Brasileiros

  
Sábado chegou. Com ele vieram muitas lembranças, boas e outras nem tanto assim. Ontem, pela manhã, estava dentro de um ônibus, quando vi uma cena que me deixou bastante comovido e que me fez refletir sobre os valores da vida e algumas exigências e discriminações que muitas pessoas ainda fazem.


Com o chão ainda molhado das chuvas que tem castigado duramente a cidade nestes últimos dias, um senhor bem idoso andava com muita dificuldade pelas ruas esburacadas puxando as rédeas de um jumento e de uma velha carroça carregada de bugigangas, sem que fosse notado pelas pessoas que passavam rapidamente ao seu lado.

Estou postando abaixo um texto feito por uma professora universitária carioca que, de forma expressiva e bem delicada, conseguiu traduzir por meio de sua emoção a inversão atual dos apegos e interesses atuais da sociedade em cena bem semelhante ocorrida no Rio de Janeiro. Para nossa leitura e profunda reflexão acerca dos verdadeiros heróis brasileiros.

                                                  Meus Heróis

Hoje, eu vi, da minha varanda, uma cena que mexeu comigo: era um homem puxando uma carroça que, por sua vez, puxava um cavalo. A carroça estava lotada de quinquilharias que ele recolhia nos lixos dos condomínios, desde poltronas a louças rachadas, roupas velhas a cascos de garrafas, enfim, tudo o que era lixo para alguns, para ele, era mercadoria, era um bem utilizável e/ou vendável para ele. Mas o que mexeu comigo foi a inversão: era ele quem puxava a carroça e o cavalo.
Quando vi que ele estava entrando no meu condomínio, não aguentei... Peguei uns trecos aqui de casa e fui levar para ele.
Queria uma desculpa para falar com aquele homem. Só não sabia o que eu queria dizer, só sabia que precisava. Juntei coragem. Cumprimentei- o. Perguntei para ele se queria aquelas panelas velhas. Ele agradeceu com um sorriso. Era um sorriso doente. De poucos dentes. Aproveitei a oportunidade e engatei uma conversa despretensiosa, perguntando se ele revendia aquelas coisas, se quando eu precisasse de um carreto ou de me desfazer de algo podia procurar por ele, onde, como... Até que, não aguentando mais, eu perguntei realmente o que queria saber, o que tanto me incomodava:

- Por que o senhor está puxando a carroça e não o seu cavalo?

E ele me respondeu com a singeleza de um anjo - eu passei a crer que os anjos devam ser pessoas assim, como esse homem.

- É porque ele está cansado. Andou até o cavalo e ainda fez um carinho nele, sorrindo. Tão simples. Tão puro. Tão honesto. Não consegui continuar. Eu me despedi dele com um aperto de mão. Ele ficou um misto de surpreso, assustado, sei lá, pois talvez há algum tempo ninguém estendesse a mão para ele. Subi correndo para ele não ver meus olhos cheios de lágrimas. E eu chorei. Chorei como criança.

 Depois, fiquei pensando como a vida, as respostas, as atitudes podem ser simples, podem ser honestas, podem ser descomplicadas, se a gente se livrar dos ranços do "não pode", "isso não é certo", "a ordem das coisas não está correta", ou, o pior de todos: "eu quero assim!"...
Esse cara, esse homem sem nome, virou um dos meus heróis.

Dedicado à Professora Gisele Barreto Sampaio.



Dia 15 de março, Dia da Escola