Antes, os pais de família educavam; com maior ou
menor acerto, mas educavam. Podemos dizer que na atualidade existem muitos
casos de medo a exercer o mando; esse temor em pais desorientados é um fenômeno
relativamente recente. E esse medo tem uma estreita relação com o desejo de não
sofrer, por um lado, e a falta de informação por outro. Expliquemos isto:
existe um medo generalizado ao sofrimento próprio e alheio – fruto
possivelmente do anseio de prazer que nos invade -; assim vai ganhando terreno
uma política de concessões na educação dos menores.
Aristóteles diz que o homem feliz atuará conforme a
virtude e levará as mudanças de fortuna com máximo decoro. Escreve: “difunde-se
o resplendor da formosura moral quando um homem suporta com serenidade muitos e
grandes infortúnios, não por insensibilidade à dor, mas sim porque é bem
nascido e magnânimo”.
A autoridade é tema chave na educação; o problema
radica em que muitos pais e dirigentes não têm suficiente personalidade e em
muitas ocasiões possuem uma ideia errada da autoridade.
Possivelmente o resultado mais valioso de toda a
educação é a capacidade para obrigar-se a fazer o que tem que fazer e quando
deve fazer-se, goste ou não.
Em vez de oferecer uma vida fácil ao filho, convém
capacitá-lo para uma vida dura e áspera. Terá que iniciá-lo, sem olhares de
falsa compaixão, nos esforços que provavelmente terá que desenvolver um dia.
Enquanto a conduta dos jovens se encontra num
estado moldável,é necessário que adquiram bons hábitos: cada pequeno ato,
vicioso ou virtuoso, deixa cicatrizes neles.
Falta de informação
O medo também se dá nos pais por falta de
informação: não sabem o que fazer aos filhos no tempo livre ou quando não estão com eles, e não sabem o
que se deve fazer num mundo em constante transformação.
Este temor ao exercer a autoridade pode ser favorecido
pelas telenovelas, onde com frequência o tema se centra nas recriminações dos
filhos aos pais; culpam-nos das suas falhas ou fracassos, aludindo a erros que os pais cometeram na sua educação, e não
reconhecem que boa parte do mal procede do próprio coração.
Paternalismo é “dar o peixe e não ensinar a
pescar”.
Autoridade e Prestígio
Os pais têm autoridade pelo fato de serem pais; mas
a autoridade mantém-se, perde-se ou recupera-se pelo modo de comportar-se. Não
será real se lhe faltar o prestígio.
A palavra “prestígio” pode ser ambígua. Não é o
mesmo o prestígio dum desportista, dum professor ou dum pai de família. Como se
tem prestígio com os filhos? Pelo modo de ser, isto é: pelo bom humor, a
serenidade e a naturalidade. Há diferentes estilos de bom humor, mas todos se
apoiam no otimismo e em saber esperar, o que se concretiza em dizer: confio em
que és capaz,espero coisas boas da bondade do teu coração.
O optimismo, a serenidade e a confiança asseguram
as melhores condições para atuar com firmeza e com flexibilidade, com suavidade
e com fortaleza: SUAVITER ET FORTITER, como diziam os antigos romanos.
A palavra autoridade deriva de “autoritas”, que
significa a força que serve para sustentar e acrescentar; “autor” é o que
sustenta uma coisa e a desenvolve. A palavra autoridade conservou a
significação clássica de crédito, garantia, poder e prestígio.
Têm prestígio os pais que são muito pormenorizados
e muito flexíveis, mas questão capazes de manter uma linha de atuação, sem dar
inclinações bruscas, graduando a exigência segundo as circunstâncias, sem
deixar nunca de exigir e de se exigirem a si mesmos a melhora.
Desprestigiam a solenidade e o dramatismo, o atirar
à cara, o lamentar-se, os julgamentos temerários e o mau humor.
A autoridade é virtude, prestígio; é a ciência e a
eficácia duma pessoa num assunto, reconhecida por outras pessoas. A autoridade
não é independência, mas sim atendimento, não é majestade, mas sim excelência.
A autoridade pertence ao reino da qualidade.
Quanto ao modo de exercê-la, a autoridade trata de
convencer, de comprovar a sua validez; recorre ao diálogo como instrumento de
governo e aceita, num clima de liberdade o compromisso de cada uma das
partes com a verdade.
O prestígio do outro cônjuge
A autoridade vista como atendimento deve gastar-se,
em primeiro lugar, em fomentar o prestígio do outro cônjuge. A vida matrimonial
não é uma competição onde no final se verá quem ganha. É harmonia, colaboração,
ou ao menos assim deveria sê-lo. Qualquer delicadeza é pouca neste sentido. Há
sugestões que ajudam os filhos a descobrirem no seu pai ou na sua mãe valores
que lhes tinham passado inadvertidos. Há também silêncios inoportunos e
omissões, que podem fazer sofrer inutilmente.
Existe uma valorização exagerada das frustrações
infantis. Com medo de que a criança se traumatize evitam-lhe esforços,
sofrimentos e obstáculos, que serviriam para forjar o seu caráter. Mais adiante na vida, se por
acaso ela os apresenta, não sabem enfrentar-se com eles… e é então quando na
verdade correm o perigo de trauma.
O normal é que na vida humana haja dor; quando uma
criança é protegida em excesso, é difícil que amadureça e que se valha por si
mesmo.
Se um pai desautorizar a sua esposa diante do
filho, a autoridade degrada-se. Pelo contrário, a potencialização da autoridade
do outro pode-se fazer destacando um detalhe, nessas conversações privadas com
cada filho: “Reparaste em…” e menciona-se um facto edificante ou destaca-se uma
virtude. Há coisas ditas de passagem que ajudam a querer-se mais, a estabelecer
uma base mais sólida para o exercício da autoridade.
Em resumo poderia dizer-se: “Mais vale educar com
deficiências que não educar”.
(Rebeca Reynaud, www.yoinfluyo.com)
Um comentário:
Infelizmente ainda há muitos pais que entregam a educação dos filhos à escola, babás ou televisão. Talvez seja essa a causa de muitas crianças e adolescentes se tornarem indisciplinados, sem limites.
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